No sector privado e nas universidades portuguesas há exemplos de mecenato e filantropia.
O consenso é geral. As universidades portuguesas dizem que, em Portugal, ainda não existe uma cultura vincada de mecenato ou filantropia, ao contrário do que acontece nos países anglo-saxónicos.
Apesar de já existirem algumas doações de empresas, de fundações e de particulares para as universidades para bolsas de estudo, patrocínios de eventos ou de instalações e para participações em projectos de investigação, "essa cultura é praticamente inexistente em Portugal", afirma o reitor do ISCTE, Luís Reto. À semelhança de todos os reitores contactados pelo Diário Económico, Luís Reto aponta os EUA como sendo um exemplo a seguir na cultura de ‘fundraising'. Em sua opinião, "é particularmente relevante ver nos EUA os exemplos dos ex-alunos bem sucedidos que retribuem à universidade o que ela fez pela sua carreira, dando assim oportunidade a outros futuros estudantes de poderem vir a usufruir desse contributo da sua universidade". Visão partilhada pelo reitor da Universidade do Porto (UP), José Carlos dos Santos, que considera que os antigos estudantes "deveriam ter uma participação mais activa no desenvolvimento da sua universidade".
É este o panorama que as universidades estão a tentar mudar e, segundo o reitor da Universidade de Lisboa (UL), António Sampaio da Nóvoa, "nos últimos anos o tema tem sido tratado por muitas pessoas, mas a realidade pouco mudou". Para isso, "é necessário, antes de mais, uma mudança de mentalidades, tanto por parte de doadores como das universidades", diz José Carlos dos Santos, que acredita que esta é uma mudança "que provavelmente só acontecerá com alguma pedagogia das universidades junto dos empresários e doadores em nome individual". Para além disso, o reitor da UP sublinha que também é necessário que as universidades "encarem os peditórios monetários como sendo uma actividade que deve ser levada a cabo por profissionais e de forma séria e competente".
António Sampaio da Nóvoa acredita também que tem de haver uma mudança da atitude de quem recebe. "As universidades também têm de merecer a confiança das pessoas e das empresas e deve haver uma prestação de contas transparente e com resultados, dos fundos que lhes são atribuídos", refere o reitor da UL. Já para o pró-reitor da Universidade Técnica de Lisboa, Vitor Gonçalves, é também da responsabilidade das universidades "apresentarem projectos interessantes para serem financiados". Por sua vez, Luís Reto defende que é essencial "falar e divulgar de forma massiva os bons exemplos que mesmo assim vão surgindo na nossa sociedade". Só assim o reitor do ISCTE acredita que o ‘fundraising' entrará na "agenda social e será visto como uma matéria banal e não como algo de extraordinário" para se criar uma "cultura de dar" para além da "cultura de caridade".
É exemplo a Fundação Amadeu Dias, que assinou recentemente novos protocolos de financiamento com a UL. Para além da renovação do programa de atribuição de bolsas para alunos de mestrado integrado, previsto até 2013, a fundação celebrou mais dois protocolos de financiamento adicionais. Um deles é o "Prémios Excelência UL", para a atribuição de prémios de mérito académico, que vai contemplar com 25 mil euros todos os anos as melhores teses de doutoramento em cinco áreas (artes e humanidades, ciências da saúde, ciências e tecnologia, ciências jurídicas e económicas e ciências sociais). O outro protocolo prevê o financiamento de 20 mil euros anuais para apoiar a promoção científica e cultural, como por exemplo a organização de eventos ou patrocínios de publicações.
Mas este não é o único exemplo. Também a UP contou recentemente com alguns apoios de empresas como a Porto Editora, a Sonae ou a Unicer para a programação das celebrações do centenário, tendo sido esta não só "a primeira grande experiência de pedido de apoios a pessoas singulares, mas também o mais sério e profissional contacto junto de empresas", explica o reitor da UP.
Assim, e apesar do contexto de crise económica e financeira que o País atravessa, os reitores acreditam que estes são passos importantes para que, de futuro, a cultura de ‘fundraising' se venha a afirmar "como uma actividade permanente e a tempo inteiro" em Portugal.
Alguns dos apoios que as universidades recebem
UL
Até à presente data, a Universidade de Lisboa já recebeu cerca de 325 mil euros da Fundação Amadeu Dias. Para o triénio de 2011 a 2013 está previsto o valor de 350 mil euros dos protocolos estabelecidos para bolsas, teses ou estágios, entre outros, desta instituição de ensino superior e a fundação.
UP
A comemoração do centenário foi o pretexto para a Universidade do Porto fazer o seu primeiro pedido de donativos junto a empresas, fundações ou ex-alunos. O valor doado variou de caso para caso e foram definidas três categorias para as doações: até 25 mil euros, de 25 mil a 49 mil euros e superior a 50 mil euros.
ISCTE
O reitor do ISCTE diz que a instituição de ensino recebe montantes "muito baixos" das empresas. No entanto, são contributos importantes para "viabilizar alguns cursos ou projectos de investigação e que também permitem um aumento de conhecimento e de cooperação entre as empresas e as universidades".
UTL
O pró-reitor da UTL, Vitor Gonçalves, diz que não é política da UTL "andar a captar fundos". No entanto, a universidade recebe alguns apoios para bolsas de estudo ou para prémios de estudantes de algumas das maiores empresas portuguesas, como por exemplo, a PT, o Santander Totta, a EDP ou o Millennium BCP.
Exemplos internacionais
Brad pitt deu cerca de 455 mil euros à Missouri
O actor norte-americano Brad Pitt é um dos vários exemplos de personalidades da indústria cinematográfica que fazem doações para as instituições de ensino superior. Em 2009 o actor e o seu irmão fizeram uma doação de cerca de 600 mil dólares, cerca de 455 mil euros, para a Universidade do Missouri. Dinheiro que foi investido na construção de um parque ecológico para actividades desportivas. Assim, Brad Pitt acabou por dar também o seu contributo para o objectivo desta universidade que pretende ganhar o certificado de ouro do Conselho de Liderança em Energia e Design Ambiental.
Bill gates fez doações para Harvard, MIT e John Hopkins
Bill Gates é um dos milionários que mais se destaca como filantropo. Em 1996 criou a Bill & Melinda Gates Foundation para ajudar os estudos de saúde e educação para crianças de todo o mundo e que já doou cerca de três mil milhões de euros. Neste valor não está contabilizado o compromisso que assumiu para financiar bolsas de estudos para mil alunos das minorias com cerca de 760 milhões de euros, ao longo de 20 anos. Entre os vários milhões que também dá para a saúde, Gates também doou 15 milhões de euros ao MIT para construir um novo Laboratório de Ciência da Computação e fez doações para a John Hopkins University para o estudo de vitaminas minerais e para a Universidade de Harvard para o estudo de prevenção da SIDA na Nigéria.
Oprah doa milhões a universidade de Nova Iorque
A Fundação Oprah Winfrey deu 2,5 milhões de dólares (cerca de 1,9 milhões de euros) à Escola Wagner de Serviço Público da Universidade de Nova Iorque para a criação do Programa Oprah Winfrey de Académicos para Mulheres Africanas. O programa vai permitir a mulheres africanas prosseguir os seus estudos superiores em políticas públicas e gestão na Escola Wagner e é o primeiro do seu estilo numa universidade americana. A fundação da conhecida apresentadora também atribui bolsas de estudo a alunos de meios desfavorecidos, em várias universidades americanas. Segundo os dados mais recentes, a fundação de Oprah Winfrey teria cerca de 172 milhões de dólares (mais de 130 milhões de euros).
Chinês dá cinco milhões de libras a Oxford
Ka-shing Li, um dos homens mais ricos do mundo e o primeiro chinês a entrar na lista de bilionários da revista ‘Forbes', doou cinco milhões de libras (cerca de 5,8 milhões de euros) à Universidade de Oxford, para que a universidade alargue e reforce os seus laços com a Ásia, particularmente na China e na área da investigação médica. O programa Ka-shing Li na Universidade de Oxford vai dirigir-se ao combate de doenças infecciosas que ainda ceifam muitas vidas em todo o mundo, como gripe, dengue, malária, tuberculose e HIV. A emergência de novas doenças e o aumento da resistência aos medicamentos são outra das preocupações e a Ásia é um ponto quente em ambos.
fonte: Económico (Ana Petronilho)
O consenso é geral. As universidades portuguesas dizem que, em Portugal, ainda não existe uma cultura vincada de mecenato ou filantropia, ao contrário do que acontece nos países anglo-saxónicos.
Apesar de já existirem algumas doações de empresas, de fundações e de particulares para as universidades para bolsas de estudo, patrocínios de eventos ou de instalações e para participações em projectos de investigação, "essa cultura é praticamente inexistente em Portugal", afirma o reitor do ISCTE, Luís Reto. À semelhança de todos os reitores contactados pelo Diário Económico, Luís Reto aponta os EUA como sendo um exemplo a seguir na cultura de ‘fundraising'. Em sua opinião, "é particularmente relevante ver nos EUA os exemplos dos ex-alunos bem sucedidos que retribuem à universidade o que ela fez pela sua carreira, dando assim oportunidade a outros futuros estudantes de poderem vir a usufruir desse contributo da sua universidade". Visão partilhada pelo reitor da Universidade do Porto (UP), José Carlos dos Santos, que considera que os antigos estudantes "deveriam ter uma participação mais activa no desenvolvimento da sua universidade".
É este o panorama que as universidades estão a tentar mudar e, segundo o reitor da Universidade de Lisboa (UL), António Sampaio da Nóvoa, "nos últimos anos o tema tem sido tratado por muitas pessoas, mas a realidade pouco mudou". Para isso, "é necessário, antes de mais, uma mudança de mentalidades, tanto por parte de doadores como das universidades", diz José Carlos dos Santos, que acredita que esta é uma mudança "que provavelmente só acontecerá com alguma pedagogia das universidades junto dos empresários e doadores em nome individual". Para além disso, o reitor da UP sublinha que também é necessário que as universidades "encarem os peditórios monetários como sendo uma actividade que deve ser levada a cabo por profissionais e de forma séria e competente".
António Sampaio da Nóvoa acredita também que tem de haver uma mudança da atitude de quem recebe. "As universidades também têm de merecer a confiança das pessoas e das empresas e deve haver uma prestação de contas transparente e com resultados, dos fundos que lhes são atribuídos", refere o reitor da UL. Já para o pró-reitor da Universidade Técnica de Lisboa, Vitor Gonçalves, é também da responsabilidade das universidades "apresentarem projectos interessantes para serem financiados". Por sua vez, Luís Reto defende que é essencial "falar e divulgar de forma massiva os bons exemplos que mesmo assim vão surgindo na nossa sociedade". Só assim o reitor do ISCTE acredita que o ‘fundraising' entrará na "agenda social e será visto como uma matéria banal e não como algo de extraordinário" para se criar uma "cultura de dar" para além da "cultura de caridade".
É exemplo a Fundação Amadeu Dias, que assinou recentemente novos protocolos de financiamento com a UL. Para além da renovação do programa de atribuição de bolsas para alunos de mestrado integrado, previsto até 2013, a fundação celebrou mais dois protocolos de financiamento adicionais. Um deles é o "Prémios Excelência UL", para a atribuição de prémios de mérito académico, que vai contemplar com 25 mil euros todos os anos as melhores teses de doutoramento em cinco áreas (artes e humanidades, ciências da saúde, ciências e tecnologia, ciências jurídicas e económicas e ciências sociais). O outro protocolo prevê o financiamento de 20 mil euros anuais para apoiar a promoção científica e cultural, como por exemplo a organização de eventos ou patrocínios de publicações.
Mas este não é o único exemplo. Também a UP contou recentemente com alguns apoios de empresas como a Porto Editora, a Sonae ou a Unicer para a programação das celebrações do centenário, tendo sido esta não só "a primeira grande experiência de pedido de apoios a pessoas singulares, mas também o mais sério e profissional contacto junto de empresas", explica o reitor da UP.
Assim, e apesar do contexto de crise económica e financeira que o País atravessa, os reitores acreditam que estes são passos importantes para que, de futuro, a cultura de ‘fundraising' se venha a afirmar "como uma actividade permanente e a tempo inteiro" em Portugal.
Alguns dos apoios que as universidades recebem
UL
Até à presente data, a Universidade de Lisboa já recebeu cerca de 325 mil euros da Fundação Amadeu Dias. Para o triénio de 2011 a 2013 está previsto o valor de 350 mil euros dos protocolos estabelecidos para bolsas, teses ou estágios, entre outros, desta instituição de ensino superior e a fundação.
UP
A comemoração do centenário foi o pretexto para a Universidade do Porto fazer o seu primeiro pedido de donativos junto a empresas, fundações ou ex-alunos. O valor doado variou de caso para caso e foram definidas três categorias para as doações: até 25 mil euros, de 25 mil a 49 mil euros e superior a 50 mil euros.
ISCTE
O reitor do ISCTE diz que a instituição de ensino recebe montantes "muito baixos" das empresas. No entanto, são contributos importantes para "viabilizar alguns cursos ou projectos de investigação e que também permitem um aumento de conhecimento e de cooperação entre as empresas e as universidades".
UTL
O pró-reitor da UTL, Vitor Gonçalves, diz que não é política da UTL "andar a captar fundos". No entanto, a universidade recebe alguns apoios para bolsas de estudo ou para prémios de estudantes de algumas das maiores empresas portuguesas, como por exemplo, a PT, o Santander Totta, a EDP ou o Millennium BCP.
Exemplos internacionais
Brad pitt deu cerca de 455 mil euros à Missouri
O actor norte-americano Brad Pitt é um dos vários exemplos de personalidades da indústria cinematográfica que fazem doações para as instituições de ensino superior. Em 2009 o actor e o seu irmão fizeram uma doação de cerca de 600 mil dólares, cerca de 455 mil euros, para a Universidade do Missouri. Dinheiro que foi investido na construção de um parque ecológico para actividades desportivas. Assim, Brad Pitt acabou por dar também o seu contributo para o objectivo desta universidade que pretende ganhar o certificado de ouro do Conselho de Liderança em Energia e Design Ambiental.
Bill gates fez doações para Harvard, MIT e John Hopkins
Bill Gates é um dos milionários que mais se destaca como filantropo. Em 1996 criou a Bill & Melinda Gates Foundation para ajudar os estudos de saúde e educação para crianças de todo o mundo e que já doou cerca de três mil milhões de euros. Neste valor não está contabilizado o compromisso que assumiu para financiar bolsas de estudos para mil alunos das minorias com cerca de 760 milhões de euros, ao longo de 20 anos. Entre os vários milhões que também dá para a saúde, Gates também doou 15 milhões de euros ao MIT para construir um novo Laboratório de Ciência da Computação e fez doações para a John Hopkins University para o estudo de vitaminas minerais e para a Universidade de Harvard para o estudo de prevenção da SIDA na Nigéria.
Oprah doa milhões a universidade de Nova Iorque
A Fundação Oprah Winfrey deu 2,5 milhões de dólares (cerca de 1,9 milhões de euros) à Escola Wagner de Serviço Público da Universidade de Nova Iorque para a criação do Programa Oprah Winfrey de Académicos para Mulheres Africanas. O programa vai permitir a mulheres africanas prosseguir os seus estudos superiores em políticas públicas e gestão na Escola Wagner e é o primeiro do seu estilo numa universidade americana. A fundação da conhecida apresentadora também atribui bolsas de estudo a alunos de meios desfavorecidos, em várias universidades americanas. Segundo os dados mais recentes, a fundação de Oprah Winfrey teria cerca de 172 milhões de dólares (mais de 130 milhões de euros).
Chinês dá cinco milhões de libras a Oxford
Ka-shing Li, um dos homens mais ricos do mundo e o primeiro chinês a entrar na lista de bilionários da revista ‘Forbes', doou cinco milhões de libras (cerca de 5,8 milhões de euros) à Universidade de Oxford, para que a universidade alargue e reforce os seus laços com a Ásia, particularmente na China e na área da investigação médica. O programa Ka-shing Li na Universidade de Oxford vai dirigir-se ao combate de doenças infecciosas que ainda ceifam muitas vidas em todo o mundo, como gripe, dengue, malária, tuberculose e HIV. A emergência de novas doenças e o aumento da resistência aos medicamentos são outra das preocupações e a Ásia é um ponto quente em ambos.
fonte: Económico (Ana Petronilho)
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